Leia o
emocionante discurso de Jesse Williams contra o racismo no BET Awards
Data:
27/06/2016
LOS ANGELES — Jesse Williams levou a plateia aos
prantos enquanto discursava após ser premiado, neste domingo, no Black
Entertainment Television (BET) Awards — cerimônia que premia grandes nomes
afroamericanos na indústria do entretenimento. Williams, que é mais conhecido
por seu papel como Dr. Jackson Avery na série “Grey’s anatomy” e por seu
ativismo pela causa negra, recebeu o Humanitarian Award (“troféu humanitário”,
em tradução livre) e atacou o tratamento injusto dado a comunidade negra nos
Estados Unidos (veja abaixo).
Do O
Globo
Williams iniciou seu discurso agradecendo sua família e amigos, e
pedindo desculpas às mulheres negras, que são comumente esquecidas por seu
trabalho na comunidade e no país como um todo. O ator, então, repreendeu tudo,
desde os assassinatos de cidadãos negros desarmados cometidos pela polícia,
passando pela mercantilização da cultura negra e a ideia de que este tratamento
pode de alguma forma se encaixar na definição de “liberdade”.
“Ontem seria o 14º aniversário do jovem Tamir Rice, então eu não quero
ouvir mais nada sobre o quão longe nós chegamos quando servidores públicos
pagos podem puxar o gatilho na direção de um garoto de 12 anos que brincava
sozinho no parque em plena luz do dia, matando-o na televisão e, em seguida,
indo para casa fazer um sanduíche”, disse Williams, lembrando o assassinato de
Tamir Rice, em novembro de 2014, em Cleveland.
“Digam a Rekia Boyd o quão melhor era viver em 2012 do que em 1612 ou
1712. Digam isso a Eric Garner. Digam isso a Sandra Bland. Digam isso a Darrien
Hunt”, continuou.
“Agora, porém, todos nós aqui estamos ganhando dinheiro, o que por si só
não vai parar com isso. Agora, dedicamos nossas vidas a ganhar dinheiro, a
botar a marca de alguém em nosso corpo, quando passamos séculos orando com
marcas em nossos corpos. Agora, nós rezamos para sermos pagos, para termos
marcas em nossos corpos”, comparou o ator, lembrando os escravos que eram
marcados a ferro em brasa.
Williams seguiu seu discurso, recebendo efusivos aplausos, enquanto as
câmeras mostravam algumas pessoas emocionadas, como o ator Jamie Foxx, vencedor
do Oscar em 2005, por “Ray”.
“Não existiu uma única guerra em que
não morremos na linha de frente. Não existe um único trabalho que não fizemos.
Nenhum imposto que não tenham cobrado contra nós. E nós pagamos todos eles. Mas
a liberdade é de alguam forma condicional aqui. ‘Você é livre’, eles seguem nos
dizendo. ‘Ela deveria estar viva se não tivesse agido tão… livremente'”.
“A liberdade está sempre por vir no
futuro, mas você sabe que o futuro é uma agitação. Nós queremos agora. E vamos
deixar algumas coisas claras — o fardo dos brutalizados não é para confortar o
espectador. Esse não é o nosso trabalho. Parem com isso”, disse Williams. “Se
você tem uma crítica a nossa resistência, então é melhor você ter uma longa
história para basear sua crítica nela. Se você não tem interesse em direitos
iguais para pessoas negras, então não tente dar sugestões àqueles que têm.
Fique sentado”.
“Nós estamos flutuando neste país atrás
de crédito há séculos, e estamos cansados de observar e esperar enquanto essa
invenção chamada brancura usa e abusa de nós, enterrando os negros e
mantendo-os fora da vista e fora da mente, enquanto extraem nossa cultura,
nossos dólares, nosso entretenimento, como óleo. Marginalizando e rebaixando
nossas criações e gentrificando nossa genialidade e, então, nos usando como
fantasia para depois descartar nossos corpos como cascas de uma fruta
estranha”.
“O lance é: só porque somos mágicos não
significa que não somos reais”, concluiu o ator de “Grey’s anatomy”.
Premiado com o troféu honorário pelo conjunto da obra nesta edição do
BET Awards, o ator Samuel L. Jackson disse que se emocionou muito com o
discurso de Williams. “Foi a coisa mais próxima a um discurso de um ativista da
década de 1960 que ouvi na vida”, definiu.
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