SUS deve
atuar como protagonista em tragédias, afirma especialista
Ciclo de palestras orienta sobre atenção à saúde
mental em desastres
Publicado
em 07/11/2019 - 19:33
Por Pedro
Ivo de Oliveira - Repórter da Agência Brasil Brasília
Reunidos por uma preocupação com
o estado de saúde mental de vítimas de grandes tragédias, como os rompimentos
das barragens de Mariana e Brumadinho, funcionários de
vários órgãos do governo e da ONG Médicos Sem Fronteiras se reuniram em um
ciclo de palestras que discute ações e estratégias para preparar profissionais
que atendem comunidades afetadas por desastres.
De acordo com o psicólogo Sérgio
Rossi, que atuou como coordenador de saúde mental durante o desastre de Mariana
e é um dos multiplicadores de conhecimento do ciclo, a melhor forma de tratar
pessoas que passaram por experiências traumáticas em larga escala é multiplicar
as Redes de Atenção Psicossocial (RAPS). O foco dessas redes é promover
cuidados essenciais a pessoas em situações de risco psicológico, mental e
social sem ferir direitos pessoais.
“É preciso discutir, refletir e
pensar na saúde mental de pessoas que sofrem tragédias. As políticas públicas
precisam se organizar para apresentar respostas que garantam cuidado, proteção
e possibilidades de retomar e recuperar as vidas”, afirma Rossi.
De acordo com o psicólogo, o
impacto de tragédias em grande escala não é mensurável nos momentos iniciais,
razão pela qual é necessário treinar equipes multidisciplinares para atuar nos
primeiros socorros das comunidades afetadas. “O nosso SUS deveria ter todo o
protagonismo no socorro de vítimas de tragédias. A melhor estratégia para
garantir a saúde mental e o apoio necessário a essas pessoas é usar o nosso
Sistema Único de Saúde como um campo intersetorial, multidisciplinar, com apoio
de políticas e instituições”, declarou.
Diversificação de atendimento
O ciclo de palestras marca a
primeira reunião entre órgãos governamentais federais, estaduais e municipais e
entidades do terceiro setor. Funcionários dos ministérios da Cidadania, da
Saúde, do Desenvolvimento Nacional, membros da Defesa Civil, das secretarias de
saúde estaduais e municipais foram sorteados para a iniciativa.
Jordan Lima, terapeuta
ocupacional de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na Bahia, resolveu
participar da formação por acreditar que desastres que anulam direitos básicos
e afetam a saúde mental das pessoas ocorrem no cotidiano.”Pessoas em situação
de rua que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas estão em uma posição
parecida com a de pessoas que passam por desastres. E essas cidades [Mariana e
Brumadinho] tinham pessoas já nessa situação [de rua]. Essas populações perdem
totalmente o amparo do Estado”.
Mais conhecimento, melhor atendimento
Para a doutora Débora Noal, uma
das organizadoras do evento, o compartilhamento de conhecimentos sobre grandes
desastres já tem resultados concretos. “Dentro da realidade da assistência
psicossocial, já podemos ver claramente que houve uma evolução entre Mariana e
Brumadinho. Nas primeiras 24 horas do rompimento da barragem de Brumadinho já
havia a presença dos três entes federados e de organismos internacionais
discutindo ações de mitigação de danos e de manutenção da saúde dos afetados.
Em Mariana, essa mesma ação demorou quase um mês”.
A psicóloga disse ainda que já é
possível traçar um perfil das doenças e transtornos mentais mais comuns que acometem
pessoas em tragédias. “Nas primeiras 72 horas, as reações são as mesmas em
pessoas do mundo inteiro: taquicardia, pânico, sudorese. Mas no fim do primeiro
mês, esses sintomas evoluem para dores de cabeça intensas, insônia, ataques de
pânico e dissociação da tragédia, que é quando a pessoa não se vê como alguém
que passou por aquela situação”, explica.
As palestras sobre cuidados de
saúde mental em tragédias acontecem em Brasília, na Escola da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), na Universidade de Brasília, até sexta-feira (08), e deverão
ser transformadas em um curso à distância para profissionais que atuam na área.
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Edição: Aline
Leal
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