domingo, 26 de novembro de 2017

Não é um herói, é um perseguidor



Procuradores se retiram de evento em protesto contra presença de Moro
Publicado: 22, novembro 2017 às 9:32
Postado por: Mariana Ohde
Foto: Eneas Gomez / Facebook ANPM
Com Lenise Klenk e Cleverson Bravo, BandNews Curitiba








Um grupo de procuradores municipais de Curitiba desistiu de participar do Congresso Nacional da categoria por causa da presença do juiz federal Sérgio Moro na abertura do evento, nesta terça-feira (21). Quando o nome do magistrado foi confirmado, 72 procuradores municipais assinaram uma nota endereçada ao presidente da Associação Nacional dos Procuradores Municipais (ANPM), Carlos Mourão, para manifestar a insatisfação do grupo.

O grupo de procuradores que organizou o protesto contra o juiz deixou o local quando Moro iniciou a palestra. O magistrado foi o último palestrante da noite.

Cerca de 25 procuradores municipais endossaram a manifestação, mas permaneceram no Congresso para protestar contra a presença do magistrado. A ideia inicial do grupo era fazer um protesto silencioso durante o congresso. Mas segundo o procurador municipal de Fortaleza e ex-presidente da ANPM, Guilherme Rodrigues, três faixas trazidas pelo grupo foram tomadas pela organização.

“A ideia não era ter vaia, não era ter protesto barulhento. A ideia levantar uma faixa e nos retirarmos exatamente por não concordar com esse convite”, disse. “Nós tivemos as faixas apreendidas e, por isso, não nos restou outra solução a não ser expressar com a voz o que a gente ia expressar com as faixas”.

Em meio a aplausos de participantes que ficaram em pé para saudar Moro, na plateia, também era possível ouvir algumas vaias e gritos de ‘vergonha’ quando o nome do juiz era mencionado.

Segundo Guilherme Rodrigues, houve um movimento orquestrado da organização para impedir vozes dissonantes.

“Se não podia mais desconvidar um juiz que é um juiz polêmico, que dividiu a categoria, se não meio a meio, que trouxe insatisfação, nós pedimos para que fizessem um contraponto. Ouvisse uma opinião do mesmo tema, com uma outra visão. Nós sugerimos, inclusive, o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão. Para nós, a negativa do convite nos deu a certeza de que aqui foi armado um palco que na verdade não é de combate a corrupção”, afirma. “Não se combate a corrupção combatendo direitos fundamentais”.

Para a procuradora municipal de Fortaleza Rosaura Brito Bastos, Moro exerce uma magistratura acusatória, que desrespeita os advogados e a defesa dos réus. “A ele, ao juiz da causa, que deveria ser imparcial, só servem as provas que venham a contribuir com a tese dele, que é acusatória. Um juiz não pode ser acusador”.

“Quando ele age dessa forma, ele desrespeita o trabalho dos advogados. Não existe hierarquia, não existe uma superioridade. Não se admite que um juiz mande um advogado calar e boca e mande ele fazer concurso para juiz. Nós não queremos ser juízes, nós queremos ser advogados”, afirma.

Palestra
Em sua palestra, ao relatar episódios descobertos na Lava Jato, Sérgio Moro disse que a corrupção é um comportamento desviante, que pode ocorrer em qualquer lugar. Moro citou o caso do Rio de Janeiro como um exemplo.

“É possível cogitar a possibilidade, e isso é algo um tanto quanto aterrador, de que esquemas criminosos semelhantes se reproduzam em outras esferas – estadual, municipal, em vários países e vários locais dessa nação. O exemplo mais visível atualmente talvez seja o estado do Rio de Janeiro, onde, puxando o fio de uma investigação originada de corrução em contratos da Petrobras, se identificou um esquema criminoso muito mais complexo a abrangente”.
O juiz também diz ser necessária vontade política para combater a corrupção sistêmica, da mesma forma com que o Brasil conseguiu promover outras mudanças estruturais nos últimos anos.

“É inegável que, nas últimas décadas, houve avanço significativo em relação ao enfrentamento da desigualdade, pobreza no Brasil, com programas relevantes de transferência de renda, programas de cotas nas universidades públicas. Tudo isso revela que não existe problema invencível desde que haja vontade política”, disse.

Além de Moro, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner apresentou palestra na abertura do Congresso Nacional dos Procuradores Municipais. O evento será encerrado na sexta-feira (24), com as palestras do ministro do Superior Tribunal de Justiça Joel Paciornik e do procurador do município de São Paulo e ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Lamentamos a ausencia de Vinícius Júnior



Mundial Sub-17: Brasil sente falta de Vinicius Junior e cai diante da Inglaterra nas semifinais
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Inglaterra despachou Brasil no Mundial Sub-17 com a vitória incontestável por 3 a 1 nas semifinais em Calcutá. Brewster, garoto do Liverpool, fez os três gols. A derrota encerra um trabalho com a geração campeã do Sul-Americano Sub-15 em 2015 e do Sub-17 na atual temporada e marca também a falta de autoridade da CBF que não obrigou o Flamengo a ceder Vinicius Júnior, o craque dessa turma, para o Mundial da Índia. Sem o seu principal jogador, Brasil não teve ninguém para fazer a diferença em momentos delicados da competição, como nesta semifinal contra a Inglaterra.

Vinicius Junior estava inscrito no torneio quando o Flamengo vetou a sua saída, alegando que o menino seria usado na final da Copa do Brasil. A CBF aceitou e só conseguiu inscrever outro garoto – Helio Junio, do São Paulo – por cortesia da Fifa. Helio Junio chegou na Seleção com a competição em andamento.

Do lado da Inglaterra, o reconhecimento de um planejamento na base muito bem feito. Os ingleses foram campeões do Mundial Sub-20 no primeiro semestre, torneio disputado na Coreia do Sul, e chegam à final do Sub-17 contra o vencedor de Espanha x Mali na Índia.

O jogo
No jogo das semifinais, Brasil desperdiçou boa chance de fechar primeiro tempo em vantagem no placar. Sofreu um gol aos 10 minutos – com Brewster – e não se abalou. Buscou o empate com Wesley, aos 21, tomou conta do jogo e poderia ter feito mais dois – um deles, com Brenner sozinho frente ao goleiro Anderson. Não conferiu e ainda deu campo para os ingleses. No momento de absoluta falta de ideias para esmagar o adversário, se fechou no seu campo sem proteger as laterais e levou o segundo gol da Inglaterra, mais uma vez de Brewster, aos 39.

Se a Seleção tinha como proposta a troca de passes, tabelinhas, bem ao modelo da escola brasileira de jogar futebol, a Inglaterra optou por um jogo de profundidade, explorando os espaços nas costas dos laterais Wesley e Weverson, sempre em busca do artilheiro Brewster. A estratégia inglesa funcionou.

 No segundo tempo, Brasil precisava de reorganizar o sistema defensivo sob pena de aumentar o prejuízo. E não perder o controle emocional, assim como fez na virada contra Alemanha nas quartas de final. Sofreu nos primeiros 15 minutos diante de uma marcação agressiva da Inglaterra. Depois se instalou no campo inimigo, agora aberto a sofrer contra-ataques.

Carlos Amadeu arriscou mais ainda a partir dos 30 minutos ao trocar o lento volante Bobsin pelo meia Helio Junio. Pagou caro. Em outra desatenção do lateral Weverson, nasceu a jogada do terceiro gol de Brewster, o diamante inglês – nas quartas de final, o atacante do Liverpool havia feito três dos quatro gols e deu uma assistência na vitória contra os Estados Unidos.

Outros destaques: Fodden, atacante de Manchester City, muito elogiado por Pep Guardiola, e Jadon Sancho, apontado como melhor jogador do time e fenômeno da geração, que disputou apenas a primeira fase e foi obrigado a abandonar o Mundial por ordem do seu clube, o Borussia Dortmund.

Esse terceiro gol da Inglaterra pulverizou os meninos do Brasil. Não tinham mais força para reagir. Acabava ali uma sequência de um bom trabalho do técnico Carlos Amadeu, que vem desde a conquista do Sul-Americano Sub-15 em 2015 e Sul-Americano Sub-17 na atual temporada. E muito elogiado por Tite.

Brasil da derrota teve Brazão (Cruzeiro), Wesley (Flamengo), Vitão (Palmeiras), Halter (Atlético-PR) e Wemerson (São Paulo); Bobsin (Grêmio – Helio Junio/São Paulo), Marcos Antônio (Atlético-PR) e Alanzinho (Palmeiras – Rodrigo Nestor/); Brenner (São Paulo – Yuri Alberto/Santos), Lincoln (Flamengo) e Paulinho (Vasco). Técnico: Carlos Amadeu.




quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Aos africanos, sempre!



Guiné-Conacri
A quem pertence a bauxite da Guiné-Conacri?
Nenhum país é tão rico em bauxite como a pequena Guiné-Conacri. Com uma nova lei, o governo quer agora salvaguardar até 30% das ações das minas do país, contra a vontade dos investidores estrangeiros.

 Guiné-Conacri - mina em Débélé




Com um sorriso de orgulho no rosto, o supervisor de turnos James Camara mostra uma das escavadoras que penetra na terra com um cilindro de corte, uma espécie de pá rotativa.

A escavadora consegue realizar três tarefas de uma só vez: apanha pedras do chão, esmaga-as e carrega-as directamente para um camião. É possível extrair até 750 toneladas de rochas por hora, diz Camara. "Dá para carregar completamente até sete camiões!", sublinha.

Os camiões são do grupo Rusal, de Moscovo, ao qual pertencem as minas de Balandou em Débélé, uma pequena cidade em Kindia, no oeste da Guiné-Conacri. À volta da mina a céu aberto crescem manguezais e mangueiras. A terra é vermelha e cheira a queimado. Dentro esconde-se o maior tesouro do país: o minério de alumínio bauxite.

 Mina em Débélé, Guiné-Conacri

Nenhuma indústria própria na Guiné-Conacri
Os carregamentos de bauxite são transportados por camiões até à estação de mercadorias. Daqui, o minério é levado em comboios de carga até à capital provincial, Kindia. E do porto de Conacri segue de navio para a Ucrânia. Aí, a partir da bauxite é produzido alumínio, que é exportado para todo o mundo. Na Guiné-Conacri, mesmo passados 53 anos após a independência, ainda não há uma indústria para transformar o tesouro da terra vermelha no cobiçado metal. Com a exportação da matéria prima, sem mais valias, a maior parte da riqueza da bauxite fica no exterior.

Com a nova lei de mineração, o país quer beneficiar no futuro mais do que atualmente com este negócio. A lei foi adotada em setembro de 2011 pelo Conselho Nacional de Transição. O objetivo é garantir a participação do Estado até 30% nas empresas de mineração, que obtêm grandes lucros com a mineração de bauxite e ferro.

Bauxite na Guiné-Conacri - o que sobra do boom?
No entanto, em termos legais isso não é nada fácil, uma vez que a maioria das minas pertencem a empresas estrangeiras.

O governo da Guiné-Conacri está em negociações com o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre como pode a nova lei ser implementada sem transgredir nenhuma lei internacional e sem afastar investidores estrangeiros.

Estes planos, porém, foram mal recebidos pelos investidores. Pavel Vassiliev, representante para África da empresa russa Rusal, considera que as empresas de extração são prejudicadas pela nova lei. "Por causa da crise mundial no setor do alumínio, vários investidores foram já forçados a deixar a Guiné-Conacry", diz Vassiliev.

Uma fração dos lucros da bauxite para as populações
Países vizinhos como a Serra Leoa e a Libéria já conseguiram uma participação maior na extração de recursos. Na Guiné-Conacri, no entanto, até agora pouco ficou da riqueza originada pelos recursos minerais. Na capital provincial, Kindia, que fica a menos de uma hora de carro das minas, vivem 200 mil pessoas. Mesmo de longe é possível ver as colinas verdes que enquadram a cidade.

Nos corredores que levam ao gabinete do presidente da autarquia local reina a escuridão porque não há eletricidade. Nos escritórios sentam-se funcionários já com idade avançada. Uma espessa camada de poeira cobre os arquivos.

Um acordo entre a Guiné-Conacri e os operadores das minas prevê que a Rusal faculte 0,01% dos lucros da sua produção de bauxite, isto é, cerca de um dólar por tonelada. Esse dinheiro deveria ir para a Câmara Municipal local, mas durante muito tempo nada chegou, diz o presidente da autarquia, Dramane Condé. "A culpa não é da Rusal. Em 2008, o exército chegou ao poder. E as pessoas não queriam que o dinheiro entrasse em canais não autorizados", explica. Por isso, a empresa esperou que as estruturas democráticas se estabelecessem para depois desbloquear os fundos. É o que está a acontecer agora. 

 Cerca de dois terços das reservas mundiais de bauxite encontram-se nos solos da Guiné-Conacri

Luta pela riqueza perdida
Enquanto isso, a Rusal envolve-se diretamente na região. Em 2012, a empresa disponibilizou 350 mil euros para fornecer eletricidade a duas aldeias. Uma delas foi Mambia, uma comunidade de pequenas casas de barro que fica a caminho das minas, na direção da capital, Conacri. Além da extração de bauxite, as pessoas aqui vivem principalmente da agricultura. As folhas verdes de mandioca brilham nos campos. "A Rusal construiu escolas, um centro de saúde e depois eletrificou a aldeia", diz o secretário-geral do município, Kandé Oumar Camara. "Isso ajudou muitos pequenos comerciantes a posicionar-se melhor", refere.


Com a nova lei, a Guiné-Conacri quer lucrar mais com a riqueza proveniente da extração da bauxite

No entanto, para muitos políticos isso não é suficiente. Defendem que uma parte maior dos lucros da extração de bauxite devia ficar no país. Se tudo correr como pretende o ministro responsável pelas Questões Estratégicas, Ousmane Kaba, a Rusal terá de abrir os cordões à bolsa. "Antes de mais, as minas pertencem à Guiné-Conacri", afirma. Por isso, atualmente há divergências com a Rusal. Segundo estudos preliminares, a empresa russa deveria transferir quase mil milhões de dólares para a Guiné-Conacri, por causa de pagamentos não efetuados. 


Bauxite para o desenvolvimento do país?
O maior problema para a Guiné-Conacry, no entanto, é que a lei não pode ser aplicada retroativamente. Os grandes negócios de recursos naturais dos últimos anos, altura em que as empresas estrangeiras ficaram com a maior fatia do bolo no negócio da bauxite, não serão afetados.

No futuro, a bauxite que será extraída das minas Balandou, em Débélé, e noutros lugares poderá contribuir mais do que no passado para o desenvolvimento da Guiné-Conacri. Se o governo guineense conseguir assegurar que as receitas da extração de matérias-primas não acabem em canais obscuros, então a nova lei da mineração terá valido a pena para a população da Guiné-Conacri.